22.9.13


Burros egoístas

(Escrito pelo Jornalista Vinicius Severo - Coluna publicada no jornal O Correio de Cachoeira do Sul, edição de 20 de Setembro 2013)

Só vejo pessoas que possuem carro, internet banda larga em casa e uma cama confortável falarem mal do principal programa social do Governo Federal, o Bolsa Família. Há também aqueles imbecis ideológicos, que somente porque o programa não foi inventado por eles, merece ser destruído. Chego a ter vergonha, mas infelizmente o que mais existe nesse mundo são burros egoístas. É impressionante, mas não há pudor nenhum em criticar, em falar mal, em condenar. Talvez essas pessoas jamais frequentaram uma vila e não sabem, e muitas vezes nem querem saber, como a condição social destes cidadãos é precária, à margem da sociedade. Dizer que são vadios é mais fácil, principalmente esse bando de folgado que vai para as festas com o dinheiro e o carro dos papais.

Não tenho o conhecimento de um assistente social para falar tecnicamente sobre tudo que afeta a vida destas pessoas. O Bolsa Família é um programa que manda dinheiro para as pessoas na faixa da pobreza, cuja renda mensal não ultrapassa R$ 140,00. Há benefícios diferentes de acordo com a renda e se as famílias possuem filhos, tudo isso precisa ser fiscalizado pelos executivos locais, para garantir a liberação do recurso. O curioso é que quando vou ao mercado comprar pão e frios para fazer um sanduíche eu não consigo entender como alguém pode passar um mês inteiro vivendo com R$ 140,00. Vocês conseguem? Além do mais, o governo não dá de mão beijada o dinheiro, há alguns critérios de acordo com as famílias. Entre eles está o da frequência escolar, a obrigação de que a criança esteja dentro da sala de aula.

Os gênios da opinião não sabem, mas nas escolas os estudantes de famílias beneficiadas pelo programa cumprem rigorosamente a frequência – boa parte deles fechando um ano com 100% de presença na escola. E essas crianças, na maioria das vezes, passam a semana inteira com as mesmas roupas, porque logicamente suas famílias não têm condições de oferecer algo melhor. Os gênios da opinião não sabem, mas essas crianças precisam também se alimentar, e muitas vezes trabalham dentro de suas casas mais do que os formadores de opinião fazem com a bunda colada na frente do computador. Esses burros egoístas jamais foram a uma escola de bairro no inverno para ver como algumas crianças estão vestidas. A eles não interessa. É preciso criticar, criticar.

Há quem afirme que o Bolsa cria vagabundos dependentes do Estado. É claro que existem casos que podem servir de exemplo para isso, assim como dentro da sua empresa e até mesmo na sua casa tem um cara folgado que faz de conta que trabalha e você se ferra para compensar a incompetência dele. Esses mesmos críticos certamente sabem como é fácil conseguir emprego no Brasil (ironia), sendo que na maioria das vezes os beneficiários estão em uma condição social que não lhes favorece a busca pela qualificação. Então, o governo acerta de novo. É empolgante o número de bolsas para cursos de qualificação profissional, com custeio de deslocamento e alimentação. Negar que o governo tem projetos para combater as desigualdades sociais é de uma estupidez que não cabe nessa coluna. Não importa a sua ideologia, negar a verdade que a transformação social está acontecendo é ridículo. Penso que o Governo Federal tem inúmeros pontos a serem atacados, mas não se pode criticar o que funciona. É injusto bater no que dá certo.

A pior contribuição que os burros egoístas fazem pelo país é quando eles espalham a mentira e conseguem uma tropa de imbecis funcionais, que são aqueles cidadãos que acreditam em tudo que lhes é mostrado, e sequer questionam ou buscam informações para verificar se o que estão oferecendo é uma verdade. Mas esquece esse papo, volta a assistir à novela. Certamente, ela tem assuntos mais interessantes para discutir do que você se importar com as pessoas que não tiveram a mesma sorte que você.